O Brasil, como maior produtor e exportador mundial de açúcar, tem explorado o potencial da cana-de-açúcar para a produção de plásticos sustentáveis.
Os plásticos biodegradáveis possuem propriedades muito semelhantes às dos plásticos convencionais, mas com uma grande diferença: ao serem expostos ao meio ambiente, esses materiais se dissolvem e se degradam em minerais inofensivos, graças à ação de microrganismos como bactérias, fungos e algas.
Diferente do plástico comum, que leva centenas de anos para se decompor, o plástico biodegradável se decompõe em um tempo significativamente menor, transformando-se em água, dióxido de carbono (ou metano) e biomassa em condições específicas.
O processo de decomposição dos plásticos biodegradáveis é influenciado por fatores ambientais como radiação UV, oxigênio, calor, vento e a presença de bactérias. Esses elementos geram pequenas fissuras e erosão superficial no material, resultando na sua desintegração.
Trata-se de um processo químico-biológico, onde a superfície do plástico interage com enzimas secretadas pelos microrganismos presentes no ambiente, quebrando os fragmentos moleculares que são digeridos por esses organismos. A taxa de biodegradação depende das condições ambientais.
Para identificar se um plástico é realmente biodegradável, é importante observar alguns critérios:
Existem vários termos associados aos plásticos sustentáveis: plásticos de base biológica, plásticos oxibiodegradáveis e plásticos compostáveis. Vamos entender as diferenças:
Não. Os plásticos biodegradáveis são aqueles que podem se decompor completamente em condições ambientais favoráveis, e podem ser feitos a partir de fontes petroquímicas ou biológicas. Já os bioplásticos são, necessariamente, produzidos a partir de fontes biológicas, e nem sempre serão biodegradáveis.
A cana-de-açúcar tem um grande potencial para a produção de plásticos sustentáveis. Já existe o chamado "plástico verde", que é polietileno produzido a partir de etanol. Embora esse plástico seja totalmente reciclável, ele não é considerado biodegradável.
Por outro lado, há um crescente interesse no desenvolvimento de opções biodegradáveis a partir da cana-de-açúcar. A Earth Renewable Technologies (ERT), uma startup estadunidense, em parceria com a Universidade Federal do Paraná, tem utilizado a fermentação da cana junto com outros materiais orgânicos para produzir plástico biodegradável. Atualmente, a empresa possui uma fábrica em Curitiba, e 40% de sua produção abastece o mercado nacional.
Diferente dos processos convencionais, a ERT utiliza o bagaço da cana-de-açúcar, um resíduo abundante da agroindústria brasileira, para produzir bioplástico PLA (poliácido lático). Esta abordagem não só reduz os custos de produção, mas também diminui a emissão de gases de efeito estufa (GEE), tornando o processo mais ecológico e economicamente viável.
Esses bioplásticos são biodegradáveis, o que significa que, ao contrário do plástico verde, esse material pode se decompor no meio ambiente sem gerar resíduos tóxicos. Em condições de compostagem adequadas, como calor, umidade e a presença de microrganismos, esses bioplásticos se decompõem completamente em até 180 dias.
Além disso, o material combina as propriedades funcionais dos plásticos tradicionais com a vantagem adicional de ser ambientalmente amigável. Ele pode ser utilizado em uma variedade de aplicações, como sacolas, garfos, copos, canudos e embalagens, proporcionando uma alternativa sustentável que não persiste no ambiente por longos períodos.
O Brasil é o maior produtor e exportador de cana-de-açúcar do mundo, o que lhe confere uma grande vantagem na produção de bioplásticos derivados desta matéria-prima. A disponibilidade abundante deste recurso no país garante um suprimento renovável e sustentável, facilitando a produção em larga escala de biomassa para a fabricação de bioplásticos. Isso reduz a dependência de matérias-primas fósseis, contribuindo para uma economia mais verde e sustentável.
A chegada dos bioplásticos e dos plásticos biodegradáveis é promissora para mitigar os problemas ambientais causados pelos plásticos convencionais. O plástico biodegradável feito com cana-de-açúcar é muito interessante no contexto nacional, visto que o Brasil é um grande produtor deste insumo; o uso do bagaço para a produção do bioplástico acaba por dar um destino melhor ao resíduo do que a sua queima, por exemplo.
No entanto, apesar de seus benefícios, os plásticos biodegradáveis não são uma solução definitiva para o problema do lixo. Se descartados de maneira inadequada, esses materiais podem ter um impacto ambiental negativo.
Portanto, é fundamental desenvolver uma infraestrutura adequada para o descarte e compostagem de plásticos biodegradáveis e compostáveis. Isso inclui a criação de mais instalações de compostagem industrial e a implementação de sistemas eficientes de coleta de resíduos. Campanhas de conscientização são essenciais para educar a população sobre a importância do descarte correto desses materiais, informando os consumidores sobre a necessidade de compostagem industrial e as limitações da compostagem doméstica.
Fontes:
Fenasucro. Plástico renovável de cana ganha nova tecnologia de produção.
Canasol. Startup produz plástico biodegradável à base de cana-de-açúcar. 2024.
ERTBio. Curitiba terá a primeira indústria de plástico biodegradável da América Latina. 2023.