Em todo o mundo, países vêm debatendo e adotando estratégias diferentes para enfrentar as mudanças climáticas que ameaçam o bem-estar da população e o equilíbrio do planeta. Nesse cenário, o setor de energia desempenha um papel central, pois as fontes de energia são responsáveis por grande parte das emissões de gases de efeito estufa (GEE). A transição energética surge como uma solução para essa realidade, diversificando a matriz energética global e reduzindo os impactos ambientais. Confira a seguir!
A transição energética é o processo de mudança gradual do uso predominante de fontes de energia fósseis, como carvão e petróleo, para alternativas limpas e renováveis, como solar, eólica e biomassa. Mais do que substituir fontes de energia, esse processo envolve a adoção de práticas mais eficientes e a criação de um sistema energético resiliente, sustentável e preparado para os desafios futuros.
O principal objetivo da transição energética é reduzir a dependência de combustíveis fósseis, minimizando as emissões de GEE e, consequentemente, mitigando os efeitos das mudanças climáticas. O processo busca promover sustentabilidade, aumentar a segurança energética e fomentar inovações e desenvolvimento de tecnologias mais limpas e eficientes.
O processo de transição energética vem sendo discutido em nível global como uma ferramenta importante para combater as mudanças climáticas que ameaçam a biodiversidade, segurança alimentar e estabilidade econômica.
Também é uma forma de diversificar e descentralizar a matriz energética, reduzindo riscos associados à dependência de poucas fontes como conflitos geopolíticos e problemas na cadeia de suprimentos.
É um sistema muito mais preparado para atender à crescente demanda por energia devido ao crescimento populacional, sem esgotar os recursos naturais do planeta.
Para o consumidor, a transição energética traz mudanças que impactam desde a forma como a energia é gerada até o custo e a confiabilidade do fornecimento. Isso pode representar uma preocupação com possíveis aumentos na conta de luz e traz a expectativa de que o governo e as empresas estejam à frente desse processo, garantindo uma transição justa e acessível.
Isso inclui ações como a ampliação do acesso a tecnologias renováveis, a criação de políticas que minimizem impactos financeiros para as famílias e a oferta de programas de educação e capacitação voltados para as novas demandas do setor energético.
A transição energética é um processo que envolve várias estratégias para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e requer a colaboração de governos, empresas e comunidades. Confira algumas das principais estratégias:
Este é o eixo central do processo de transição energética, e envolve a redução progressiva das emissões de carbono em vários setores. Inclui a substituição do carvão e a otimização dos processos de extração e produção de petróleo e gás.
A eletrificação substitui combustíveis fósseis por energia elétrica proveniente de fontes renováveis. Bons exemplos de eletrificação na transição energética são os carros elétricos e a implementação de sistemas elétricos em indústrias e edificações. Esta estratégia também tem um papel importante no processo de descarbonização.
A base do processo de transição energética está no uso de energias renováveis, como solar, eólica e biomassa, que oferecem emissões reduzidas e sustentabilidade a longo prazo, já que são inesgotáveis e tem um menor impacto ao meio ambiente.
O uso de tecnologias para digitalizar e modernizar o fornecimento de energia ajuda a torná-lo mais eficiente, reduzindo perdas e garantindo maior integração entre produção e consumo. Algumas alternativas são tecnologias como as redes inteligentes (smart grids), sistemas de gerenciamento e plataformas digitais.
A eficiência energética diz respeito ao uso otimizado de energia, que ajuda a reduzir o desperdício, diminuir custos operacionais e contribuir para o alcance das metas climáticas. Isso pode ser feito através da modernização de equipamentos e o uso das tecnologias avançadas para otimizar processos industriais, que são responsáveis por uma boa parte do consumo de energia global.
No Brasil, o setor de energia é responsável por cerca de 26% das emissões de GEE, o que torna a transição energética uma estratégia essencial para o futuro sustentável do país. Em um cenário global de mudanças climáticas e busca por modelos econômicos mais sustentáveis, o Brasil tem a oportunidade de liderar iniciativas devido à sua matriz energética historicamente mais limpa, composta por cerca de 42% de fontes renováveis.
O país também tem um compromisso com as metas estabelecidas no Acordo de Paris, que incluem alcançar uma participação de até 45% de energias renováveis na matriz energética até 2030.
Em Minas Gerais, o perfil já é bem promissor, com 52,7% de fontes renováveis em sua matriz energética, a região tem feito esforços para expandir o uso de energia solar, eólica e de biomassa.
A transição no Brasil tem sido impulsionada por alguns programas como o PROINFA, que promove inclusão de fontes como eólica e solar; o RenovaBio, que incentiva a produção e uso de biocombustíveis; e o Plano Nacional de Eficiência Energética, que define diretrizes para reduzir o consumo e aumentar a eficiência.
Embora a matriz energética brasileira seja considerada mais limpa, o país ainda tem uma grande dependência de combustíveis fósseis em setores como transporte e geração de energia térmica. Para mudar este cenário, é preciso adaptar estes setores com, por exemplo, políticas específicas para reduzir a pegada de carbono.
Outro ponto importante é que as fontes renováveis ainda tem uma participação limitada na matriz energética nacional devido a desafios como custos iniciais elevados, infraestrutura inadequada e falta de incentivos suficientes. Para que haja a transição energética justa, é preciso fazê-la de forma equitativa, ou seja, é importante incluir comunidades vulneráveis nas estratégias, garantindo que os benefícios sejam distribuídos.
Uma crise energética ocorre quando há um desequilíbrio entre oferta e demanda de energia, e pode ser causada por fatores climáticos, econômicos ou estruturais. Esse desequilíbrio pode se manifestar como escassez de energia ou de capacidade para atender à demanda em horários de pico. No Brasil, crises energéticas estão frequentemente associadas à dependência de hidrelétricas, que são vulneráveis às variações climáticas.
Causas: A dependência excessiva de hidrelétricas tornou o país muito vulnerável em uma situação de seca severa que reduziu os níveis dos reservatórios das usinas. Somado a isso, a falta de investimentos em geração e transmissão
Consequências: Houve uma redução obrigatória de 20% no consumo, com cortes no fornecimento e impactos na economia. Também foram aplicadas penalidades e incentivos financeiros para estimular a economia de energia.
Superação: Implementação de medidas de racionalização de consumo, criação de uma agência multiministerial para gestão da crise e campanhas de conscientização.
Causas: A escassez hídrica foi, novamente, a principal causa da crise energética. A falta de chuvas acabou se estendendo pelos próximos anos, até 2015.
Consequências: Houve um aumento tarifário para os consumidores, devido ao aumento dos custos para geração de energia térmica. Foi registrada emissão de mais de 189,9 milhões de toneladas de CO2. Apesar de seus impactos, essa crise não recebeu a mesma atenção ou tratamento coordenado da crise anterior.
Superação: Aumento do despacho térmico e implantação de bandeiras tarifárias para compensar custos.
Causas: Seca histórica que reduziu os níveis dos reservatórias das hidrelétricas e aumento da demanda de ponta, especialmente no verão devido ao uso de ar-condicionado.
Consequências: Necessidade de importar energia e acionar usinas térmicas de alto custo e iniciativas como o Programa de Redução Voluntária de Demanda (RVD) para grandes consumidores. Também foi registrado um aumento considerável nas taxas de energia elétrica para os consumidores.
Superação: Uso de tecnologias emergenciais e maior diversificação da matriz energética para evitar colapsos.
De maneira geral, estas crises demonstram a importância de se investir em uma diversificação da matriz energética. Ficar dependente de uma única fonte de energia pode representar um grande risco para a população, como foi o caso das crises brasileiras. A falta de chuvas afeta de forma significativa a geração de energia via hidrelétricas, e caso não existam alternativas, a população passará por este tipo de problema.
A transição energética é um objetivo global, sua implementação varia de acordo com os recursos naturais, políticas públicas e investimentos de cada país. O Energy Transition Index (ETI) 2024, do Fórum Econômico Mundial, avalia 120 nações com base em indicadores como desempenho do sistema energético e prontidão para a transição.
Os países nórdicos estão no topo do índice devido à eficiência energética e uso integrado de fontes renováveis:
Embora economias emergentes apresentem pontuações mais baixas no índice, várias tem registrado avanços importantes como o Brasil, que tem apresentado progressos notáveis e a China, que é líder em crescimento de tecnologias como baterias, veículos elétricos (EVs) e linhas de transmissão de alta tensão. O país investe 9% do PIB em energias renováveis, a maior proporção global.
A diferença de desempenho entre economias avançadas e emergentes está diminuindo, o que indica um importante progresso na transição energética global. No entanto, desafios relacionados a regulamentações, investimentos e acessibilidade persistem.
A Europa é uma das referências em transição energética, junto da América Latina, e lidera iniciativas para reduzir emissões de carbono, diversificar fontes de energia e melhorar a eficiência energética.
A União Européia está à frente das estratégias que combinam eficiência energética, eletrificação e uso de tecnologias limpas, com o objetivo de alcançar a meta de neutralidade do carbono até 2050. Estes países tratam a transição de forma abrangente, combinando políticas climáticas e energéticas com digitalização e integração de mercados. Essa abordagem promove um sistema energético eficiente, com infraestrutura conectada e competitiva.
Fontes:
World Economic Forum. Fostering Effective Energy Transition - Insight Report. 2024.