O que é têmpera?
A têmpera é um processo do tratamento térmico usado na metalurgia para melhorar a resistência, a dureza e a durabilidade de aços e outras ligas metálicas. Consiste basicamente no aquecimento do metal a uma temperatura elevada (normalmente entre 800 °C e 900 °C, dependendo do tipo de aço), o que provoca uma transformação da estrutura cristalina do aço (formação de austenita), e em seguida resfriá-los rapidamente, geralmente em água, óleo ou outro meio de resfriamento rápido.
O principal objetivo da têmpera é transformar a estrutura do aço de austenita em martensita, que é uma fase muito dura e frágil. Isso melhora significativamente a dureza, a resistência ao desgaste e, em alguns casos, a resistência à tração do material.
Desde o estado inicial até o pós-tratamento (revenimento), o aço passa por várias transformações microestruturais que influenciam na dureza final do aço. Entenda como funciona esse processo:
Aqui, o aço ainda não passou por tratamento térmico intensivo. Sua estrutura é uma combinação de ferrita (muito dúctil e macia) e perlita (mais resistente), que confere ao material uma dureza relativamente baixa.
Dureza típica: Aço 1045 recozido: ~170 HB (~10–20 HRC)
Quando o aço é aquecido à temperatura de austenitização, sua estrutura se transforma em austenita, que é uma fase estável apenas em altas temperaturas. A austenita não é dura, mas é a fase-chave para formar martensita depois.
Após o aquecimento, o aço é resfriado rapidamente (têmpera), formando a martensita, que é extremamente dura, mas também frágil. Esse é o ponto de máxima dureza do material.
Dureza típica:
Para reduzir a fragilidade da martensita e aumentar sua tenacidade, realiza-se o revenimento, um reaquecimento a temperaturas mais baixas. A estrutura resultante é chamada de martensita revenida.
Dureza ajustada:
Estrutura |
Descrição |
Dureza (HRC) |
Ferrita pura |
Muito dúctil e macia |
<10 |
Perlita |
Lamelar, um pouco mais dura |
~15–25 |
Austenita |
Instável à temperatura ambiente |
Não mensurável |
Martensita |
Muito dura, frágil |
55–66 |
Martensita revenida |
Boa dureza + tenacidade |
40–60 |
A têmpera garante metais mais duros e resistentes ao desgaste e melhora sua tenacidade reduzindo a fragilidade do material. Com isso, é possível prolongar a vida útil dos componentes e reduzir os custos de manutenção dos equipamentos.
Um metal temperado é mais adequado para suportar altos níveis de estresse, impacto ou desgaste, aumentando a confiabilidade da operação.
Conheça outros tipos de tratamentos térmicos.
Existem diversos tipos de têmpera, que variam principalmente quanto ao meio de resfriamento e à velocidade com que ele retira o calor da peça. A escolha do tipo de têmpera depende do tipo de aço, das dimensões da peça e das propriedades desejadas.
Nesse processo, a peça é aquecida até a temperatura de austenitização e, em seguida, resfriada rapidamente em um meio apropriado, como água, óleo ou ar forçado.
Meios de resfriamento comuns:
Vantagens: processo simples, amplamente utilizado e eficaz.
Desvantagens: risco de trincas, empenamentos e tensões internas, especialmente em peças de grande porte ou geometrias complexas.
Após o aquecimento, a peça é resfriada até uma temperatura intermediária controlada (250 °C a 400 °C) em um banho de sal fundido ou chumbo. Ela é mantida nessa temperatura até ocorrer a transformação para bainita.
O objetivo é obter uma microestrutura bainítica, que combina boa resistência com alta tenacidade.
Vantagens: menor risco de trincas e distorções, ideal para peças com seções variáveis.
Semelhante à isotérmica, a peça é resfriada em um meio (como sal fundido) até que a temperatura se iguale em toda a sua seção, mas sem formar martensita de imediato. Depois, é resfriada ao ar para completar a transformação.
O objetivo é formar uma martensita mais uniforme, reduzindo tensões internas e o risco de deformações.
Ideal para: peças espessas ou com geometrias complexas, onde o resfriamento uniforme é essencial.
Neste método, apenas a superfície da peça é aquecida e rapidamente resfriada, promovendo o endurecimento da camada externa, enquanto o núcleo mantém sua ductilidade.
Principais métodos de aquecimento:
Vantagens: alta resistência ao desgaste na superfície, mantendo o núcleo tenaz.
Aplicações típicas: engrenagens, eixos, trilhos e peças sujeitas a atrito constante.
Esse processo utiliza um feixe concentrado de laser ou elétrons para aquecer rapidamente áreas específicas da peça, seguido por um resfriamento imediato.
Vantagens: altíssima precisão, mínima deformação e aplicação localizada do tratamento.
Indicado para: componentes de alto desempenho ou peças com requisitos rigorosos de endurecimento seletivo.
Nem todos os tipos de metais podem ser temperados com sucesso, esse tratamento térmico é mais eficaz em materiais que têm capacidade de formar martensita, principalmente aços com teores adequados de carbono.
Abaixo estão os principais materiais que podem ser temperados:
Os aços carbono são os materiais mais utilizados no processo de têmpera. Para que ocorra a formação eficaz da martensita (estrutura responsável pela dureza), é necessário um teor mínimo de carbono em torno de 0,3%.
Exemplos comuns:
Aplicações típicas: eixos, molas, ferramentas manuais, facas e lâminas.
Os aços-liga contêm elementos como cromo (Cr), níquel (Ni), molibdênio (Mo) e manganês (Mn), que melhoram a capacidade de endurecimento mesmo em peças com seções maiores.
Exemplos comuns:
Vantagem: permitem têmpera com menor risco de trincas e melhor controle da dureza.
Alguns ferros fundidos maleáveis ou nodulares podem passar por têmpera para aumentar dureza superficial, embora não formem martensita da mesma forma que os aços.
Exemplo:
Indicação: aplicações que exigem resistência ao impacto e à fadiga, com alguma maleabilidade.
De modo geral, a têmpera martensítica tradicional não é aplicável a ligas não ferrosas, mas alguns materiais podem passar por tratamentos similares, embora o termo "têmpera" seja usado de maneira diferente:
Exemplos de tratamentos aplicáveis:
Material |
Pode ser temperado? |
Notas |
Aços carbono > 0,3% C |
Sim |
Quanto mais carbono, maior a dureza obtida. |
Aços-liga |
Sim |
Melhor controle de têmpera em peças grandes. |
Ferros fundidos nodulares |
Parcialmente |
Requer têmpera especial (como austêmpera). |
Alumínio |
Tratamento diferente |
Não forma martensita. |
Titânio |
Tratamento específico |
Têmpera em sentido amplo. |
Cobre e ligas |
Não |
Usa-se outro tipo de tratamento térmico. |
Nem todos os metais podem ser temperados porque a têmpera depende de transformações estruturais específicas que nem todos os metais conseguem realizar. O processo clássico de têmpera envolve a formação de martensita, uma fase dura e metaestável que ocorre principalmente nos aços com teor suficiente de carbono.
Entenda os motivos pelos quais nem todos os metais podem ser temperados:
Por isso, a têmpera clássica é restrita aos aços e a alguns ferros fundidos modificados. Outros metais precisam de tratamentos térmicos específicos adaptados às suas estruturas e propriedades.
A medição da dureza do material permite identificar se ele atingiu as propriedades mecânicas desejadas. A dureza indica o quanto o material resiste à deformação permanente (especialmente ao risco e ao desgaste). Essa medição é feita por meios de ensaios específicos:
Método de dureza |
Aplicação típica |
Unidade |
Características |
Rockwell (HRC) |
Aços temperados |
HRC (escala C) |
Método mais comum para medir dureza alta |
Brinell (HB) |
Materiais menos duros ou homogêneos |
HB |
Usa esfera de aço; bom para aços recozidos |
Vickers (HV) |
Superfícies pequenas e camadas finas |
HV |
Alta precisão, ideal para microdureza |
Microdureza (Knoop ou Vickers) |
Camadas finas (ex: têmpera superficial) |
HK ou HV |
Medições em seções transversais polidas |
A dureza de um aço temperado depende diretamente do teor de carbono presente em sua estrutura:
Teor de carbono (%) |
Dureza máxima esperada após têmpera (HRC) |
0,2 |
~35 HRC |
0,4 |
~45 HRC |
0,6 |
~55 HRC |
0,8 – 1,0 |
~62–66 HRC |
Acima de 66 HRC, o material se torna muito frágil para a maioria das aplicações.
Para peças grandes ou que passaram por têmpera superficial, pode ser necessário medir a dureza em diferentes profundidades, geralmente em uma seção polida.
Os principais métodos para essa medição são:
Logo após a têmpera, a dureza está no máximo, mas o material pode estar muito frágil. Por isso, é aplicado revenimento para reduzir a dureza e aumentar a tenacidade. A dureza final ideal depende da aplicação:
Considere a têmpera de um aço SAE 4340 com 0,4% C. Após a têmpera e antes do revenimento, espera-se uma dureza ~55 HRC se o processo for eficaz. Se a dureza for muito menor do que isso (ex: 30 HRC), pode indicar:
Na verdade, a temperatura sozinha não aumenta a dureza de um material, o que aumenta realmente a dureza é o efeito do resfriamento rápido (têmpera) após o aquecimento a altas temperaturas.
Os metais possuem uma estrutura cristalina, ou seja, seus átomos estão organizados em padrões específicos. Quando um metal é aquecido a altas temperaturas, essa estrutura se altera e, o resfriamento rápido trava essa nova estrutura em um estado duro e metaestável.
Durante o aquecimento até a chamada temperatura de austenitização (geralmente entre 800 °C e 900 °C), a estrutura do aço muda de ferrita/perlita para austenita. Essa estrutura é mais “maleável” e permite a redistribuição do carbono dentro do metal.
Se o aço for resfriado rapidamente, os átomos de carbono não conseguem se reorganizar calmamente. O resultado é a formação da martensita, que tem uma estrutura distorsiva e trincada, muito dura e rígida, mas frágil. É essa martensita que aumenta a dureza do aço.
A Zanini Renk oferece uma ampla gama de tratamentos térmicos para aumentar a durabilidade dos metais, garantindo componentes de alta performance para maquinários industriais. Contamos com o maior forno de cementação do Brasil e um laboratório especializado, onde realizamos ensaios metalográficos detalhados, assegurando o mais alto padrão de qualidade em cada peça produzida.